Cordelirando...

sábado, 28 de novembro de 2009

Salete Maria dá mais uma entrevista na blogosfera!


Foi publicada hoje, 28 de Novembro, no blog Coletivo Camaradas uma entrevista com a cordelista Salete Maria, onde a mesma fala um pouco de sua história, dos seus primeiros passos na poesia através da convivência com sua avó, D. Maria José, bem como seu tio José Alexandre, além de tantos outros que tornaram-se suas influências neste caminhar poético.
Na entrevi
sta, Salete fala ainda da temática de suas poesias, geralmente ligada às minorias sociais, mencionando, com muita propriedade, a sua maneira de ver arte+política, sem deixar de citar, claro, a Sociedade dos Cordelistas Mauditos, da qual faz parte e que vem se destacando e sendo objeto de pesquisa por inovarem a literatura de cordel desde sua parte estética até a temática em questão.
Por fim, a poeta fala ainda deste blog, que procura agregar sua obra literária e de suas pretensões para os dias vindouros.
Para ler a entrevista, na íntegra, de Salete Maria ao blog Coletivo Camaradas e conhecer mais um pedacinho de nossa poeta, clique AQUI e depois venha nos dizer suas considerações acerca da mesma.

domingo, 8 de novembro de 2009

Extra! Extra!

Sai mais uma edição dos cordéis "Dia do Orgulho Gay" e "Do Direito de Ser Gay ou Condenando a Homofobia".Trata-se da contribuição político-poética de Salete Maria para o combate à homofobia. Desta feita, os cordéis estão sendo publicados pela ong Galosc, mediante algumas parcerias.

Confira abaixo:

Do Direito de Ser Gay ou condenando a Homofobia


Diante do Tribunal
Zeca expôs a questão:
“Sou um homossexual
E peço vossa atenção
O que deve ser julgado
E d’uma vez extirpado
É o ódio; o amor, não!

Não está em discussão
A minha intimidade
Aqui a acusação
Pesa contra a insanidade
De quem ousa decretar
Que é proibido amar
Invocando a divindade

Meu direito de ser gay
Não me pode ser negado
Pois não ajo contra a lei
Quando ouso ser amado
Por alguém do mesmo sexo
Por mais que seja complexo
Esquisito ou estranhado

Sou eu, pois, um cidadão
Que trabalha e contribui
Com esta grande nação
E que dela não se exclui
Mereço todo o respeito
Sou sujeito de direito
Que avança e evolui

O que temos que julgar
É a tal da homofobia
Que está a provocar
Mortes pela cercania
Privando gente decente
De viver alegremente
Entre nós, em harmonia

Não podemos conceber
Que a injustiça impere
Temos que nos envolver
Pois toda morte nos fere
Todo gay é ser humano
Todo ser é nosso “hermano”
Se pensa assim, não tolere

Não seja condescendente
Cúmplice ou co-autor
Muito menos conivente
Com tais atos de horror
Se você tem consciência
Denuncie a violência
Seja lá contra quem for

Não me chame de demente
Anormal ou acintoso
Nem tampouco de indecente
Pecador ou monstruoso
Ouse atacar injustiças
Reveja suas premissas
Não sou eu o criminoso!

O que há de errado em mim?
E que você não suporta?
Tente escrever outro fim
Para a velha história torta
Um defensor de direito
Não dormirá satisfeito
Omisso, fechando a porta!

A diferença existe
Não adiante negar
Pra que este dedo em riste
Sempre a me apontar?!
Vá julgando a minha vida
E escondendo a ferida
Que tu não ousas curar!

Em toda a Humanidade
Houve gente como eu
Vítima da iniqüidade
Quanto inocente morreu!
Em nome de um modelo
Que sempre imprimiu um selo
Separando tu e eu

Foi assim com outros seres
Igualmente “diferentes”
Ante os “podres poderes”
Continuaram silentes?
Mulheres, negros, judeus
Anciãos, crentes, ateus
São todos eles doentes?

Suplico, reflitam mais
Sobre vossas posições
Examinem os anais
Das vossas “convicções”
Vejam que todos perdemos
Que Justiça defendemos
Admitindo exceções?

Repito: eu sou um gay
Veado, homossexual!
Sou eu um fora-da-lei?
Delinqüente, marginal?
Tenho direito a viver?
Ou minha sina é morrer
Sob a lâmina d'um punhal?

Digam, senhores jurados,
E povo da minha terra!
Quem deve ser condenado?
É este que aqui vos berra?
Ou a tal da homofobia?
Que mata à luz do dia
Vai à missa, ora e enterra?

Eu quero finalizar
Pedindo para os doutores
Comecem a se indagar
Olhem-se nos corredores
Quem não conhece um gay?
São todos foras da lei?
Ou há algum entre os senhores?

Quem nunca teve um colega
Quem sabe até um parente
Aquele a quem você nega
O direito de ser gente
De existir, ser feliz
Ser dono do seu nariz
E levar a vida contente?

Vamos, pensem um segundo!
Antes do seu veredito
Quem aqui criou o mundo?
E tudo o que “está escrito”?
Não é este o argumento?
Que lhes serve de cimento
Sobre o que tenho dito?

Deixo agora com vocês
O direito de julgar
Não é mais a minha vez
Fale quem quiser falar
Condenada a homofobia
Quem sabe por mais um dia
Muitos possam respirar

Sendo ela absolvida
Certamente ouvirão
Dizer que mais uma vida
Foi ceifada no sertão
E também no litoral
Onde gay não é igual
A qualquer um cidadão

Data vênia, meus senhores
Mas isto é covardia
Onde eu for, onde tu fores
Sempre dor e agonia
Ponham um ponto final
Sou um homossexual
Tenho direito ao meu dia!

Dia do Orgulho Gay


“Época triste a nossa em que é mais difícil quebrar um preconceito que um átomo”(Einstein)

No vinte e oito de junho
- Dia do Orgulho gay -
O mundo dá testemunho
Do que não nasce por lei:
É um dia diferente
A rua enche de gente
O marginal vira rei

Tudo fica colorido
A vida enche de graça
Há riso, grito, gemido
Gente se amando na praça
Mas nem sempre foi assim
O vinte e oito, enfim
Surgiu em meio a desgraça

Conta a história, diz Mott
Que um tumulto ocorreu
Num bairro de Nova York
E muita gente envolveu
Stone Wall era o bar
Que à paisana, ao chegar
A polícia enlouqueceu

Ao todo nove soldados
Ali duzentos fregueses
Os donos foram algemados
E espancado, por vezes
Renderam três travestis
Puseram-nas vis-a-vis
Trataram-nas como rêses

Mandaram todos embora
E humilharam os detentos
Mas encontraram lá fora
Os seres mais violentos
O povo enfurecido
Num coro mais que atrevido
Exigiram dos sargentos:

“Libertem estes rapazes
Ninguém aqui é bandido
Saiam, pois somos capazes
Dum protesto decidido
Homossexual é gente
Desumana é a mente
De quem espanca ‘entendido’

Quase uma hora de atrito
No ano sessenta e nove
A polícia com apito
Tudo por causa dum ‘love’
O Estado achando demais
Amor de homossexuais -
Só de lembrar me comove

Surgiu ali o embrião
Duma data mundial
Virou comemoração
Qual a noite de natal
Agora no interior
Tem até vereador
Pelo gay municipal

Esse é o dia de orgulho
De quem sofre a opressão
Dia de muito barulho
E de grande agitação
De bandeira colorida
Para celebrar a vida
O amor e a paixão

Dia de dizer ao mundo:
Respeite a diversidade!
Abaixo o ódio imundo
Basta de mediocridade
A Humanidade é
O gay, o padre, a mulher
Homem de terceira idade

A data exige de todos
Mais amor, mais tolerância
Propõe o fim dos engodos
Exige mais segurança
Direito e democracia
Sossego, cidadania
Respeito e esperança

Por isto no Cariri
Onde tudo nos fascina
Onde a flor de pequi
Desabrocha e nos ensina
O gay tem que se afirmar
Organizado, lutar
Contra a morte como sina

É dever de toda gente
Combater o preconceito
Quem se julgar consciente
Quem quer exigir direito
Jonatan Kiss foi assim
Amou e viveu, enfim
Conquistou nosso respeito!